Deslize numa canoa por esta floresta de mangais e poderá ter a sorte de ver uma ondulação sob a superfície da água. Tanto pode ser um golfinho de água doce como um tigre de Bengala, o único felino que se sente tão confortável a nadar quanto a caminhar nos pântanos lamacentos deste curioso mundo aquático.
Os 100.000km2 do delta onde a Baía de Bengala se encontra com os rios Ganges, Meghna e Brahmaputra sofreram sempre com as marés de tal forma intensas que, todos os dias, cerca de um terço da terra desaparecia e voltava a reaparecer. Hoje em dia, é raro voltar a aparecer. A geografia desta zona está a alterar-se rapidamente.
Um estudo recente feito pela Ghoramara Jadavpur University sugere que 5,5% da floresta de manguezal já desapareceu, enquanto algumas ilhas, como a Ghoramara, perderam metade do seu terreno desde 1965, de forma definitiva.
O nível da água está a subir 12mm todos os anos (comparativamente à média global de 2mm), causando inundações e marés violentas que atingem aldeias inteiras de uma só vez. Milhares de pessoas que outrora viviam da pesca neste local que é Património Mundial da Unesco já ficaram desalojadas e muitas delas foram forçadas a mudar-se para o interior. Isto significa que os seus habitantes também estão a desaparecer. Num estudo feito em 2015, estimava-se que apenas 200 tigres viviam na Sundarbans, uma queda drástica dos 440 registados nos censos 2004.
Os culpados são aquele trio mortífero: a caça, ligada à pobreza; a desflorestação; e a dependência dos combustíveis fósseis. Enquanto todos assumimos responsabilidades pelas emissões de CO2 nas nossas próprias vidas (e dependemos dos nossos governos para seguir a agenda ecológica), em última estância caberá às organizações internacionais, como as Nações Unidas, exigir o decréscimo significativo do uso de combustíveis fósseis aos seus estados membros.
A nível local decorrem várias iniciativas para tentar prolongar o tempo de vida desta zona. A Reserva da Biosfera de Sundarban está a criar novos pântanos com árvores que crescem depressa, que os habitantes locais podem utilizar como combustível, diminuindo a necessidade de abater árvores ilegalmente.
O Banco Mundial apoiou o governo no treino de uma pequena patrulha para detetar a caça furtiva ilegal, enquanto a WWF financiou painéis solares em algumas das aldeias mais remotas para fornecer energia acessível aos habitantes mais pobres. Porém, com a água a subir tão depressa, parece que Sundarbans deveria estar no topo da sua lista antes que mude para sempre.
VEJA AGORA
A tour diferente da Wild Frontiers, a Hidden Charms of Bangladesh, inclui visitas aos reinos budistas perdidos, ruínas de navios e muito tempo em Sundarbans, durante mais de 16 dias. A Wild Frontiers doa uma percentagem de cada reserva para uma instituição de caridade que protege os tigres, usa transportes com baixas emissões de gases poluentes para as suas viagens e visita algumas das comunidades mais remotas. A partir de 3,095€pp. wildfrontierstravel.com
FAÇA A SUA PARTE
Passe algum tempo, de um dia até seis meses, a fazer voluntariado na Sundarban Foundation, uma instituição de caridade de Bengala Oriental. Pode fazer tudo, desde ajudar as clínicas locais a fazer rastreios de visão aos habitantes até ensinar técnicas sustentáveis de agricultura às viúvas de vítimas de ataques de tigres sundarbanfoundation.org
Artigo publicado na edição de janeiro/fevereiro 2019.
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